Por que as pessoas ficam de luto quando uma celebridade
morre?
A notícia da morte do sertanejo Cristiano Araújo e da
namorada dele, Allana Morais, chocou o Brasil inteiro e, desde então, o que se
vê são depoimentos de artistas, amigos, familiares e fãs do cantor, que não
apenas lotaram o Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia, onde os corpos
estão sendo velados, como enviam mensagens de solidariedade em eventos
sertanejos e também nas redes sociais.
Pessoas famosas, quando morrem, realmente conseguem deixar
um país inteiro de luto, ou, no caso de celebridades como Michael Jackson, um
planeta inteiro. Você já se perguntou por que essa comoção acontece? O que será
que nos leva a sofrer com a morte de uma pessoa que provavelmente nunca nem
vimos de perto? Será que isso é apenas uma questão de solidariedade? Ao que
tudo indica, não.
Para exemplificar bem esse assunto, podemos levar em conta
que as pessoas que não conheciam o trabalho do cantor, embora comovidas com a
tragédia, não passam pelos estágios de luto como os fãs do sertanejo, que
choram, rezam e se emocionam quase como se fossem amigos íntimos de Araújo.
Essa comoção com a morte de celebridades queridas parece ter
a ver com o fato de que, no caso dos fãs, Cristiano Araújo esteve presente em
momentos importantes de suas vidas, quase como se fosse um amigo ou um parente.
São pessoas que ouviram as músicas do cantor em momentos
especiais, que se emocionaram com algumas canções, que se divertiram ao som de
outras, que se identificaram com alguns versos. Ainda que o fã não tivesse o
contato real com o ídolo, ele contava com a presença do sertanejo em programas
de televisão, sites e revistas dedicados a comentar a vida de celebridades e,
com força total nos últimos anos, nas redes sociais.
Araújo era conhecido entre os fãs
por responder a comentários sempre com muita atenção. Era o artista que
distribuía sorrisos em suas apresentações, muito bem quisto entre outros
artistas do meio, apresentadores e jornalistas. Além do talento para a música,
é evidente que o carisma de Araújo foi fundamental para a construção de sua
carreira.
Toda essa questão do
comportamento social do cantor, da forma alegre como se apresentava, das
parcerias musicais, da atenção com o público nas redes sociais e também durante
os shows, além das letras, da música alegre e da identidade de seu trabalho
contribuem para que os fãs criem essa conexão emocional com a pessoa famosa,
ainda que a maioria dos fãs nunca tenha visto Araújo de perto, muito menos
trocado algumas palavras com ele.
Outro fator que contribui para o
sentimento de luto por uma pessoa famosa é a identificação com essa pessoa, o
que acontece quando fã e famoso estão na mesma faixa etária ou são moradores da
mesma região, por exemplo. Além disso, condições familiares delicadas também
nos comovem. Quando a Princesa Diana morreu, o mundo inteiro ficou em choque:
não apenas ela era, à época, a mulher mais famosa do planeta, como era jovem e
tinha dois filhos.
O falecimento de Diana, também provocado por um acidente de
carro, nos faz perceber que, de fato, a morte é um acontecimento inevitável,
capaz de pegar de surpresa mesmo as pessoas mais ricas, que têm condições
melhores de saúde e segurança, dois fatores essenciais quando o assunto é a
expectativa de uma vida longa.
Outro ponto que emocionalmente coloca pessoas em uma posição
de luto diante da morte de uma celebridade é a lembrança de uma perda recente,
especialmente quando o motivo da morte é semelhante. É absolutamente normal,
portanto, que aqueles que perderam amigos ou familiares em acidentes de
trânsito voltem a sentir uma tristeza parecida com a do luto pessoal.
Agora com relação às redes sociais, muitas das pessoas que
publicam homenagens à celebridade morta o fazem, inconscientemente, também pela
necessidade de fazer parte de uma espécie de movimento.
Muitas pessoas têm essa necessidade de se fazerem ouvidas,
ainda que nem percebam isso. Nesse sentido, a internet e o surgimento das redes
sociais acabaram contribuindo para que milhões e milhões de anônimos pudessem
sentir a sensação de que estão sendo ouvidos e de que, mais ainda do que isso,
fazem parte de um universo antes dominado apenas por famosos: o das notícias.
Se antes precisávamos comprar um jornal para saber a opinião
de alguns colunistas, hoje temos acesso a essa opinião na internet, que ampliou
o número de “colunistas”, digamos assim. E, como se não bastasse, qualquer
material publicado pode se tornar um viral, que nada mais é do que os famosos
“15 minutos de fama” dos tempos de Andy Warhol.
No caso do luto, as redes sociais possibilitam também uma
espécie de “senso de comunidade”, que seria algo capaz de unir mais e mais
pessoas, que se encontram porque dividem a mesma tristeza. Compartilhar nossos
pensamentos e lamentações nos torna parte de um grupo muito maior, e se tornar
parte de um grupo é uma das características mais humanas de todas.
Gostar de pessoas com as quais temos afinidades, sejam elas
famosas ou não, é outra característica que nos humaniza – e isso pode ser visto
também como uma maneira de nos agrupar, de novo. Nesse sentido, a morte de
alguém com quem nos identificamos por algum motivo é mais sentida por nós,
ainda que essa pessoa seja uma celebridade que nunca tivemos a chance de
conhecer.
A morte de um famoso pode, às vezes, fazer com que as
pessoas sintam uma espécie de vazio existencial. Quando há essa questão de
aproximação por idade, região, identidade, características pessoais ou mesmo
apenas pela necessidade de fazer parte de um frenesi online, sentimos uma dor
significativa, como se realmente tivéssemos perdido alguém próximo ou até mesmo
algum familiar.
A lembrança de que todos morrem um dia, independente da
idade, da relevância social ou da condição financeira, é e sempre vai ser uma
questão delicada, que mexe com cada pessoa de maneira diferente. Nesse sentido,
valem reflexões a respeito da morte, a coisa mais comum de todas e,
paradoxalmente, a menos comentada e sobre a qual menos gostamos de pensar.
De qualquer forma, assim como acontece quando alguém que
conhecemos morre, é importante lembrarmos que a tristeza tende a passar. No
caso dos familiares de Cristiano Araújo e de Allana Morais, a superação da
perda pode demandar também tratamentos médicos e terapêuticos. A aceitação não
acontece de uma hora para a outra, e é preciso que esses familiares tenham o
apoio de outras pessoas da família, dos amigos e que, além de tudo, tenham sua
privacidade respeitada.
Da redação ON.
Informações: Huffington Post/Samantha Jeffries , The Guardian/Eva Wiseman, Nymag/im Murphy, Em Resumo.
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