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terça-feira, 15 de abril de 2014

Para viver em comunidade, não é preciso estar perto

Acho interessante quando as pessoas mencionam a palavra comunidade para se referir ao bairro, vila ou escola, mesmo que, na maioria das vezes, o conceito seja mais bonito que o entendimento da palavra: conjunto de indivíduos com características comuns que habitam um mesmo espaço. Está no dicionário, livro que, aliás, todos deveriam usar mais vezes e acabar com o preconceito de que somos obrigados a conhecer tudo. Mas, sem delongas, eu quero chegar nas “comunidades online”, nos habitats digitais.
Já que a necessidade de viver em rede – o que eu interpreto como viver em comunhão, partilhando com os demais – está migrando do espaço físico para o virtual (e deste para aquele também), é importante conhecer esses habitats digitais onde as comunidades virtuais, formadas por muito jovens, se configuram.
Além do conceito de redes sociais, relacionadas ingenuamente apenas ao Facebook, ao Twitter e similares, existem as comunidades de prática (termo criado pelo estudioso da educação, Etienne Wenger)  para designar um grupo de pessoas que se unem em torno de um mesmo interesse e trabalham juntas para achar meios de melhorar o que fazem, através da interação regular, dentro de habitats digitais.
Em termos conceituais, o habitat apresenta uma relação dialética entre o ambiente (espaço) e a espécie (nós!), tem caráter dinâmico e é dotado de elementos específicos que promovem a interação dos participantes. Um habitat, obrigatoriamente, precisa promover uma aproximação do meio com o ser.
Quando nos sentimos bem em um local, a tendência é permanecermos ali por mais tempo. Exercemos atividades que contribuem com as ações dentro desse local, interagimos com os outros seres que dividem esse espaço, agimos e construímos juntos, porque somos motivados para isso. Ficamos engajados em várias causas.
No mundo online, acontece a mesma coisa. Ninguém estaria no Facebook se sentisse mal no ambiente. Por isso, redes de aprendizagem online estão sendo criadas para chamar o jovem a participar de uma comunidade de prática, em um habitat digital, com fins educacionais. Mas que, ao mesmo tempo, apresente características divertidas que promovam a interação e estimulem a participação. Essas redes, inclusive, auxiliam as equipes gestoras e os corpos docentes das escolas no aperfeiçoamento de práticas pedagógicas para além da sala de aula.
Como exemplo, temos o Brainly – que favorece a formação de grupos de estudo online e estimula que um aluno ajude o outro, atribuindo pontos a quem colaborar mais e emblemas, como reconhecimento e mérito; aEscol@21 , o Edmodo – possibilita a criação de uma sala de aula na internet, com participação ativa de alunos e professores; o Edukatu ; e, recentemente, o Instituto Crescer para a Cidadania criou o curso “Aprender em Rede” para fomentar a prática de trabalho por projetos colaborativos online e para promover a troca de experiências regionais e culturais, entre alunos de escolas públicas e privadas do Brasil.
Quando um espaço apresenta ferramentas corretas, facilita a navegação dos participantes, promove ações colaborativas a fim de que todos os membros da comunidade contribuam para o crescimento do espaço e do grupo, e configura-se como uma comunidade de prática relevante.
Wenger pontua quatro perspectivas que são importantes para um habitat digital:
1) “Ferramentas” para dar suporte às atividades dentro da comunidade;
2) Uma “plataforma” bem estruturada para a apresentação dessas ferramentas;
3) “Particularidades” da plataforma tornando as ferramentas utilizáveis e suscetíveis de serem vividas;
4) E uma boa “configuração” das tecnologias digitais que sustentam o habitat, a fim de haver engajamento e participação dos usuários.
Outro estudioso chamado Olli-Pekka Pohjola, em seu texto “Design Principles for a New Generic Digital Habitat”  elencou onze princípios dos habitats digitais. O primeiro deles é que o habitat digital é construído a partir de metáforas conceituais que os humanos utilizam. Em outras palavras, fazer no ambiente online o que fazemos na vida real. Então, se necessitamos estudar e tirar as nossas dúvidas com professores e colegas, por que não o fazemos por intermédio da internet e da web? Um ambiente útil quando os alunos estão em seus lares e não conseguem se deslocar fisicamente para encontrar o seu tutor. Esse complementa o segundo princípio, de que um habitat digital está ligado às necessidades básicas dos humanos, e com o terceiro, de que é centrado na atividade humana.
Em muitas situações, existe partilha de conceitos entre habitats físico e digital, já que os digitais tendem a articular-se e têm continuidade com os físicos. Muitas plataformas criadas para abrigar as comunidades online, na área da educação, partem da ideia de que a sala de aula física pode estender-se para uma sala de aula virtual, sem perder as potencialidades.
A maioria das comunidades de aprendizagem que encontramos hoje na web é o verdadeiro habitat digital, porque promovem o trabalho colaborativo, possibilitam o armazenamento e a organização da informação que é distribuída e promovem a comunicação entre os usuários. Como também favorecem a participação dos estudantes por meio da promoção de diálogos múltiplos de forma assíncrona [independe da presença simultânea do remetente e do destinatário da mensagem].
Isso tudo me diz que viver em comunidade não significa habitar um único espaço, mas podem ser vários, em diferentes momentos ou ao mesmo tempo, desde que tenhamos o mesmo propósito que os outros “habitantes” têm.                                                                                          Talita Moretto                                                                                                        Tatiana Moretto do NET educação 

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