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terça-feira, 14 de abril de 2015

Crônicas do Cotidiano

Lição de vida 


Por Tais Luso 

Moro num lugar alegre e arborizado, e mesmo assim faz parte da minha vizinhança um dos maiores hospitais da América do Sul. Onde moro tenho, de graça, fatos e fotos que só me acrescentam: tenho aulas sobre valores, atitudes, solidariedade, metas, realidade, futilidades, sonhos desfeitos... Tudo me é dado de graça: uma amostra do muito e do pouco que posso ser como pessoa.

Desço e vejo uma criança paraplégica, com a mãe ao lado, cobrindo seu filho de carinho, e que dependerá a vida toda de alguém. Ela me olha e eu baixo a cabeça. Senti-me constrangida, não pelo fato em si, mas pelo seu sofrimento presente e futuro. Por saber que aquela 'dor' será para sempre. Evitei de falar com os olhos.

Vejo pessoas idosas, já na última instância de suas vidas nostálgicas e sem sonhos, apenas esperando... Vejo gente lutando para sobreviver, clamando por mais um tempinho de vida; vejo, nas minhas andanças - perto do hospital -, crianças saindo da quimioterapia, gente acompanhando seus doentes. Tenho essas amostras, de luta pela vida, todos os dias. Tenho sempre o que aprender dia-após-dia. E isso, sem querer, vai me dando outra visão das coisas, da vida e das pessoas. E posso traçar parâmetros para mim. Isso faz com que eu dê valor unicamente ao que tem valor.

Saio de uma realidade e vejo a outra: gente discutindo e se incomodando por um armário de cozinha que ficou com um tom acima do idealizado, dando um valor excessivo à matéria. Vejo gente falando do pedigree de seus cães querendo desmerecer os outros animais; vejo gente que se descuida em ser mais ética; vejo brigas enormes em inventários, com pessoas achando que estão sendo logradas; pego o carro e vejo pessoas discutindo porque o outro fez uma manobra infeliz. Vejo de tudo um pouco. E aí lembro do hospital, meu vizinho.

Acho que não há melhor escola do que a minha  e procuro nunca faltar às aulas... Não quero repetir certas matérias.


Só não aprendi, ainda, a lidar com a dor física sem chorar muito e achar-me injustiçada. Nenhum ser deveria passar por dor física e, muito menos ser submetido à tortura.

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