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sábado, 1 de agosto de 2015

Crônicas do Cotidiano

 O arroz - Doce precisa de solidão 

Por Tais Luso

Calma!! Sei que é difícil para entenderem o título da crônica, confesso que puxei por todos os meus neurônios para descobrir o sentido da coisa, logo eu que fui a vítima. Com 200 anos de casamento nas costas, não conheço totalmente as ideias filosóficas de meu marido.

Quase todos os dias almoçamos fora, nos restaurantes que oferecem dezenas de pratos diferentes, ao gosto do freguês. Mas nos reeducamos, escolhemos apenas 4 variedades para não fazermos um prato de cachorro louco. Combinamos os sabores entre si.

Porém, chegando na mesa das sobremesas, vários doces apetitosos mexeram com meus sentidos: adoro ambrosia, arroz-doce, creme de nozes, sorvete, mousse de maracujá e tantos outros. E tinha tudo isso. E resolvi me servir de arroz-doce com um pouquinho de creme de nozes por cima... Meu marido aproximou-se de mim e disse baixinho, mas com insistência, aquela coisa de marido sabichão:

– Não faça isso, o arroz-doce precisa de solidão!

Solidão? Sacudi meus neurônios e arrumei meus hormônios para ter a certeza de que estava apenas num restaurante, e não escutando Sócrates – com o seu célebre 'só sei que nada sei'; ou Aristóteles tentando me dizer que 'a verdade estava à minha volta'.

Difícil de entender a solidão do meu arroz-doce! Olhei pro meu marido, numa linguagem meio tosca, própria daqueles que têm fome e disse-lhe:

– Me deixa comer, caramba!!!

E levei meu doce junto ao peito, cuidado, idolatrado, como se fosse uma criança cuidando de seu brinquedo. Maravilha, arroz-doce com molho de nozes!
Depois que comi, virei para ele e cobrei uma explicação: o que você quis dizer com arroz e solidão? Nunca senti solidão...

– Não é você, é o doce! Arroz-doce não pede acompanhamento a não ser canela em pó, você descaracterizou o doce, entendeu?

– Ah, sim, entendi a solidão… Mas você não pensou na solidão do molho de nozes? Eu lhe dei vida juntando-o ao arroz…Até  acho que foi um encontro feliz!

Logicamente saímos rindo, nenhum de nós baixou suas armas, e tudo por causa de um doce! Enxerguei meus doces com outro olhar: dois companheiros que se completaram...

Enquanto isso, meu marido lambuzava-se com o mesmo arroz-doce, servido apenas com canela e numa filosófica e amarga solidão!
Vá entender...

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