Dilma cozinha Eduardo
Por Ricardo Noblat - O globo.
A jogada mais
inteligente de um governo medíocre quando faz política, e desastrado quanto
toca a economia, foi a invenção aceita por todo mundo de que Dilma precisa de
Eduardo Cunha para salvar-se do impeachment, e de que ele precisa dela para não
ser cassado.
Até Eduardo acreditou.
Uma espécie de pacto de proteção mútua. Se um dia ele descobrir que foi
enganado, talvez seja tarde para reagir.
Dilma tem contra ela as
ruas, que lhe conferem a mais alta taxa de rejeição que um presidente já
amargou entre nós. Eduardo, a Lava-Jato,
o Ministério Público Federal, o Supremo Tribunal Federal (STF) e os formadores
de opinião.
As ruas estão quietas,
quando nada porque não creem que o Congresso aprovará o impeachment de Dilma. O
resto pressiona Eduardo cada vez mais.
Há uma semana, Michel
Temer, vice-presidente da República, abandonou à noite o Palácio do Jaburu, em
Brasília, onde mora a poucos metros do Palácio da Alvorada, para que ali se
realizasse um encontro secreto – o de Eduardo com Jacques Wagner (PT),
ministro-chefe da Casa Civil do governo.
Foi mais um de uma
série recente de encontros secretos entre os dois.
De parte a parte,
renovaram-se cobranças e promessas de ajuda.
Eduardo quer que o governo use sua influência para que a Procuradoria
Geral da República e o STF retardem providências a serem tomadas contra ele.
Imagina que assim
ganhará tempo para cuidar de sua absolvição na Câmara por quebra de decoro.
Quer também proteção para sua mulher e filha, às voltas com a Justiça.
A cadeia, por ora, não
o preocupa tanto. Pelas suas contas, longos anos se passarão até que seja
absolvido ou condenado.
O tempo jogará a seu
favor, aposta em conversa com amigos. Mas não apenas o tempo. Também uma equipe
de advogados de primeira que hoje se divide entre o Brasil e a Suíça, ocupada
em levantar informações para conceber sua defesa.
Wagner pediu a Eduardo
duas coisas: a primeira, que esqueça o impeachment. O governo confia que tem
mais que o número de votos suficientes para garantir o mandato de Dilma.
Ainda assim, a abertura
de um processo de impeachment seria um transtorno. Segunda coisa: que Eduardo
colabore para que a Câmara vote as demais medidas do ajuste fiscal. Para o bem
da economia.
Sucedeu ao encontro do
Jaburu mais uma série de sinais de que o governo não entrega a Eduardo o que
promete.
O STF negou o pedido de
Eduardo para que um dos inquéritos contra ele tramite em segredo de Justiça.
Vazaram novos trechos
da delação do empresário Fernando Baiano que incriminam Eduardo. Bem como
trechos de documentos remetidos ao Brasil pela Justiça suíça.
Na última quarta-feira,
ao receber de líderes da oposição um novo pedido de impeachment contra Dilma,
Eduardo teve mais uma prova de que sua situação tornou-se mais atraente para a
mídia do que o destino da presidente: os jornalistas só queriam ouvi-lo sobre
novas revelações que poderão pôr um fim à sua carreira política.
“Por que não perguntam
sobre Dilma”? – ele quis saber. Em vão.
Há 15 fins de semana
consecutivos que o que resta da imagem positiva de Eduardo vem sendo corroído
pela tormenta provocada por ele ao esconder dinheiro de propina em contas
bancárias no exterior.
Na hora em que virar
réu no STF, a Procuradoria Geral da República poderá pedir seu afastamento da
presidência da Câmara. E aí...
Não
haverá impeachment contra Dilma que o salve mais.
Arte - Antonio Lucena, O globo. |
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